terça-feira, dezembro 03, 2002
Leiam esta verdadeira crítica aos barraqueiros de todas as praias do Brasil!! Encontrei num blog de uns caras dementes lah da faculdade, Los Canos!
Como Djavan arruinou meu fim-de-semana
por André Barcinski
Fim-de-semana passado rolou um sol bonito e resolvi rumar para o litoral, curtir um merecido descanso. Fui, como de hábito, para Toque Toque Pequeno, uma praia bem tranqüila, longe da agitação de Ubatuba, Maresias e outros pólos. O lugar é um paraíso. Ou melhor, era.
Não é que o dono do bar na areia da praia resolveu inovar e botou uns alto-falantes virados para o mar?
Nem bem abri o guarda-sol e lá veio o gemido: "O amor é como um laaaaaaçoooooo...." Alto, muito alto.
Poucas coisas nesse planeta me tiram do sério quanto Djavan. Posso resistir a todo tipo de intempérie: fome, sol, sede, trânsito, fila em banco, horário político... mas Djavan é demais da conta.
Sabe quando pessoas que estiveram perto da morte dizem que viram a vida passar diante dos olhos, como num flash? Quando ouço Djavan acontece o mesmo. As lembranças vêm numa torrente: pessoas sentadas nas mesas do Canecão, batendo palmas e cantando junto; rodinhas de violão no Baixo Gávea, saraus de colégio, adultos de pochete. Tudo passa numa questão de milésimos de segundo. E não sou só eu: juro que vi uma tainha tentando se enforcar com uma alga marinha. Um impressionante fenômeno da nossa fauna marítima.
Corri para o bar e pedi pelo amor de Deus para que o dono do estabelecimento parasse com aquela tortura. Ele foi misericordioso e atendeu o pedido - depois de eu ameaçar gastar meu suado dinheirinho em outro lugar, claro.
Mas isso foi só o começo da odisséia.
Uns 15 minutos depois, o sujeito resolve tirar o CD do Djavan e sintonizar a Eldorado FM. Para quem não sabe, a Eldorado FM tem uma programação voltada para músicas mais "calmas", que apelam para um público na faixa dos 30 a 40 anos. É o que os americanos chamam de rádio "easy listening". Mas quem disse que é "easy" ouvir a Eldorado?
A primeira música era uma coisa incompreensível cantada por Zeca Baleiro. A segunda era "The Best", da Tina Turner. E por aí foi. Horas e horas de uma programação que parecia ter sido escolhida pelo Marquês de Sade.
Ora, todos sabemos que as rádios "jovens" do Brasil - de rock, música eletrônica, pop - são comandadas pelas gravadoras, que pagam jabá e decidem o que as emissoras tocam ou não. Até aí, nenhuma novidade. Mas e uma rádio como a Eldorado FM, como fica? Aí está uma rádio que parece não viver de jabá, tanto que toca músicas mais antigas e que há muito saíram da programação "normal" das outras emissoras. Palmas para a Eldorado.
Mas por que diabos uma rádio que é livre para tocar a música que quiser escolhe Zeca Baleiro, Zélia Duncan e Chico César? Por que toca as piores músicas de Elton John, Eric Clapton e Tina Turner, e não as melhores? Não é brincadeira: passei quatro horas ouvindo a rádio - de uma às cinco da tarde de sábado, 19 de outubro de 2002 - e não ouvi UMA música que prestasse. Para piorar, descobri que a melhor acústica do mundo é a das praias: por mais que eu tentasse me esconder dentro d'água, os trinados do Chico César eram inescapáveis.
Fiquei imaginando como teria sido melhor meu fim-de-semana se, em vez do Djavan cantando sobre o açaí e o zum do besouro e a tez da manhã, a Eldorado tivesse rolado qualquer coisa do Álbum Branco dos Beatles, ou Frank Sinatra, Noel Rosa, Beach Boys, Neil Young, Nelson Gonçalves, Ella Fitzgerald ou Cartola.
Estou programando outra viagem ao litoral para o primeiro sábado de dezembro. Se algum diretor da rádio for leitor desta coluna, fica o pedido: semana que vem vou deixar aqui nada menos de CEM sugestões de músicas que cairiam como uma luva na programação da Eldorado FM. Só músicas famosas, lindas e calminhas, bem ao estilo da rádio. Em nome de toda a população de Toque Toque Pequeno, imploro: não estrague nosso fim-de-semana de sol!
uma boa tarde por enquanto!!
rm
Distorcido por: Ricardo Martins às 16:51